Se você já ouviu em alguma igreja que “o feminismo é do diabo” ou que “a teologia feminista é heresia”, saiba:
não se trata apenas de opiniões religiosas isoladas.
Existe uma estrutura bem montada que faz a teologia feminista ser marginalizada, especialmente entre grupos conservadores.
E essa resistência diz muito mais sobre poder e medo de mudanças do que sobre fé verdadeira.
Hoje, vamos conversar sobre como o discurso conservador constrói o medo em torno da teologia feminista — e o que isso revela sobre a luta por uma fé mais justa e inclusiva.
Por que a teologia feminista incomoda tanto?
A teologia feminista surge para fazer perguntas incômodas:
- Por que a liderança religiosa é quase toda masculina?
- Por que Deus é sempre representado no masculino?
- Por que as mulheres, apesar de serem maioria nas comunidades de fé, têm tão pouca voz nos espaços de decisão?
Essas perguntas não são rebeldia gratuita. Elas expõem as estruturas patriarcais que moldaram (e ainda moldam) a religião institucional.
E, justamente por isso, assustam.
A teologia feminista desafia a hegemonia masculina e propõe uma releitura da fé a partir das experiências, dores e esperanças das mulheres.
Ela questiona narrativas que naturalizaram a exclusão feminina dos espaços de poder dentro da igreja.
E como toda estrutura de poder resiste a ser desafiada, a reação é previsível: marginalização, difamação e medo.
Como o discurso conservador reage?
O discurso conservador, especialmente aquele propagado em ambientes religiosos, frequentemente tenta pintar o feminismo como algo demoníaco:
- Feministas seriam “rebeldes contra Deus”.
- A teologia feminista seria “um ataque à família tradicional”.
- Questionar a autoridade masculina seria “quebrar a ordem divina”.
Ao associar a luta feminista à ideia de caos, destruição e pecado, essas narrativas tentam impedir que as perguntas feministas sejam levadas a sério.
O feminismo é demonizado não porque ele destrói a fé — mas porque ele ameaça o monopólio masculino sobre ela.
O exemplo de Jacqueline Rash: como se constrói o medo
Um exemplo claro dessa estratégia de medo é o discurso da Jacqueline Rash, que circula em muitos vídeos pelas redes sociais.
Em suas falas, Jacqueline afirma que:
- O movimento feminista é uma “agenda satânica” para destruir a família;
- Não existe mulher feminista e cristã ao mesmo tempo (“ou você não é cristã, ou não é feminista”);
- As mulheres deveriam “voltar ao seu papel original” de submissão, porque foi assim que Deus planejou.
Percebe o padrão?
Em vez de dialogar com as críticas que a teologia feminista levanta, esse tipo de discurso desqualifica e criminaliza o próprio ato de questionar.
Ao fazer isso, impede-se qualquer reflexão real e fortalece-se uma fé baseada no medo — e não na liberdade.
O que está realmente em jogo?
No fundo, o combate à teologia feminista não é uma luta espiritual contra o pecado.
É uma defesa política e institucional de estruturas que beneficiam determinados grupos.
Quando mulheres ousam perguntar, reinterpretar e propor novas leituras da Bíblia e da tradição, elas ameaçam a ordem que sempre disse a elas qual era o “seu lugar”.
E isso é profundamente revolucionário.
Fé é controle… ou liberdade?
A pergunta que a teologia feminista nos faz é poderosa:
A nossa fé liberta ou aprisiona?
Se Jesus veio para anunciar boas novas aos pobres, libertar os oprimidos e devolver a vista aos cegos, como podemos continuar sustentando estruturas que oprimem e silenciam as mulheres?
O que assusta na teologia feminista não é que ela afaste as pessoas de Deus.
É justamente o contrário:
Ela lembra que Deus é maior do que nossas hierarquias humanas — e que no Reino de Deus, não há homem nem mulher, escravo nem livre, pois todos são um em Cristo (Gálatas 3:28).