Você já se perguntou por que, de repente, tantos líderes religiosos falam sobre “marxismo cultural” e “ideologia de gênero” como se estivessem defendendo a fé de um ataque invisível?
Pois é. A verdade é que essas expressões não surgiram por acaso — e entender isso pode mudar completamente a maneira como você enxerga a relação entre fé, política e justiça social.
Vamos conversar sobre isso?
A fé em crise: o que (de verdade) estamos combatendo?
Nos últimos anos, termos como “marxismo cultural” e “ideologia de gênero” se tornaram praticamente mantras dentro de muitas igrejas.
Eles são usados para deslegitimar movimentos sociais que lutam por direitos fundamentais: direitos das mulheres, da população LGBTQIAP+, dos povos originários e das religiões de matriz africana.
Esses termos foram naturalizados nos sermões, nos encontros de oração, nos grupos de jovens — como se fossem conceitos bíblicos. Mas não são.
Eles vêm, na verdade, de projetos políticos muito bem articulados por setores da extrema-direita internacional, especialmente por grupos religiosos conservadores que têm interesses muito específicos em manter uma certa ordem social e moral.
Uma tirinha que diz tudo
Para ilustrar como essa narrativa funciona, imagine esta cena (que foi apresentada numa aula que assisti):
👩❤️👩 Um casal homoafetivo com filhos,
🏳️🌈 Pessoas LGBTQIAP+,
🕯️ Seguidores de religiões afro-brasileiras…
Todos juntos, simplesmente existindo.
Do outro lado da imagem, um homem branco, cis, heterossexual, revoltado, diz:
“Isso é tudo culpa do marxismo cultural e da ideologia de gênero. Malditos politicamente corretos!”
Percebe o que acontece aqui?
Minorias são culpabilizadas pelas mudanças sociais que incomodam quem estava acostumado a ser o centro de tudo.
Essa lógica — culpar quem ousa existir de forma diferente — foi embrulhada em discurso religioso e entregue aos fiéis como uma “defesa da fé”.
Mas no fundo, é apenas uma defesa de privilégios históricos, travestida de batalha espiritual.
Senso comum ou senso manipulado?
Esses discursos não surgiram porque “Deus revelou”. Eles foram construídos estrategicamente para criar um pânico moral:
- “O feminismo é do diabo.”
- “A ideologia de gênero quer destruir as famílias.”
- “O politicamente correto é censura.”
Ao serem repetidas até a exaustão em cultos, vídeos, grupos de WhatsApp e conferências, essas ideias viram verdades absolutas dentro das igrejas.
Quem questiona, é taxado de herege. Quem pensa diferente, é acusado de querer destruir a igreja.
Assim, o pensamento crítico é barrado.
Não há espaço para perguntas como:
“O que o feminismo cristão propõe para a maternidade, a fé e a comunidade?”
Porque o objetivo dessas expressões não é abrir o debate. É silenciar.
Por que precisamos falar sobre isso?
Reconhecer que essas expressões são fruto de projetos políticos — e não doutrinas bíblicas — é fundamental para uma fé mais consciente.
Não se trata de “enfraquecer” a igreja.
Se trata de libertar a espiritualidade do medo, da ignorância e do uso político do Evangelho.
A crítica aos sensos comuns que dominam nossas igrejas é, na verdade, um convite:
- Um convite a pensar.
- Um convite a ouvir outras vozes.
- Um convite a reimaginar uma fé que acolhe, liberta e transforma, em vez de excluir e oprimir.
Se nossa fé precisa se sustentar sobre o medo de mudanças e o ódio ao diferente, será que estamos realmente seguindo Aquele que sentava à mesa com quem todos queriam expulsar?